13/09/2016

Dia 16 - Problemas de autoridade

Confesso que tenho algum problema em receber ordens e em ser contrariada. Isto aplica-se mais no meu dia-a-dia de trabalho, e torna-se mais tolerável a nível pessoal. Detesto receber ordens, principalmente quando não concordo com elas, que só por acaso acontece 99,9999999% das vezes. 

Os pêlos do braço eriçam-se, uma onda de calor dá-se e após um respirar bem fundo e um tentar dizer "o meu ponto de vista e ser bem educada", as minhas mãos começam a tremer de seguida. Isto acontece, SEMPRE que há algum confronto devido a uma ordem que a meu ver não tem razão de ser.

Não ajuda o facto de eu ter uma visão de como as coisas devem de ser feitas, muito particular. Piora um pouco quando me "mandam" fazer alguma coisa, mas não se explicam bem, ou simplesmente são resistentes à ideia de mudança porque "Ah e tal é assim que eu faço há anos, e é assim que você tem de fazer porque eu não me vou adaptar à sua maneira." Então porque é me pediu, Senhor? Quando pedimos aos outros para fazerem alguma coisa por nós, e não somos específicos no que queremos, as probabilidades de acontecer algo deste género são muitas! 

Além disso, quando não se trabalha sozinho, há que encontrar este meio-termo - vão duas pessoas desempenhar esta função, sendo que eu estou lá há menos tempo e ainda estou a adaptar-me...então vamos tornar isto o mais simples possível para mim mas sem atrapalhá-lo a si e aos seus rituais do ano de 1555. Acho que isto não é difícil de perceber...

Pois, mas eu esqueço-me que as pessoas com as aptidões para as matemáticas não entendem bem o Português (sem querer ofender ninguém, atenção). E gera-se um problema..Posso dizer que nesta tarde, devo ter revirado os olhos 355 vezes por minuto, ter imaginado cenários catastróficos do que iria acontecer ao meu patrão caso ele continuasse a pôr em causa os meus métodos, e respirado fundo pelo menos umas 50 vezes por segundo, de forma a evitar alguma saída menos infeliz.

Isto é uma má característica da minha personalidade, que tento esconder o melhor que consigo, porque não é vista como uma "teimosia" de tentar melhorar ou opinar sobre alguma coisa, mas sim como um desafio à autoridade. E tendo em conta que eu só "falo" bem quando escrevo, é bastante complicado gerir isto.

Porque é que as pessoas quando "mandam" ficam completamente cegas, surdas e mudas a outras opiniões? A mudança é positiva e é importante para a haver evolução. Se eu não der uma oportunidade, nunca vou chegar à conclusão que se fizer Ctrl+L numa folha de Excel vou conseguir encontrar com mais rapidez, aquilo que quero. Mas quem não gosta de mudança e se esconde atrás da autoridade, prefere continuar a percorrer o Excel até encontrar o que procura. Não se lembram sequer do tempo que se perde e que poderiam estar a desenvolver outras coisas. 

Há outra coisa que bate de frente aqui - o factor idade/experiência. Enquanto se é "novo" e sem tanta experiência, nada é levado a sério. Nem sempre o "Ah e tal eu trabalhei 30 anos na empresa do Manuel Joaquim", significa saber fazer as coisas melhor do que uma pessoa mais nova. Principalmente, quando não se procura evoluir ou saber mais. É este tipo de autoridade que me faz morder a língua e respirar fundo para não roçar a má educação.

Não se trata de uma questão de arrogância - quando as ideias das pessoas mais experientes fazem sentido e ajudam, eu sou a primeira a fazer um esforço para adoptar. Mas quando irão complicar ainda mais o trabalho que no futuro até só vou ser eu a desempenhar, não consigo ver a utilidade e objectivo. Acho que se trata apenas de uma questão de afirmação - "Eu estou aqui, eu sei mais, eu mando, e tu vais fazer porque é para isso que te pago."

Fica apenas aqui um desabafo, de um dia menos bom, em que abanei a cabeça muitas vezes por sentir a minha paciência a ser testada. Pode ser que no futuro eu ganhe a qualidade de "comer e calar", pois torna tudo mais fácil e suportável. Até lá, vamos rindo e contando os episódios mais macabros que assisto todos os dias.


Resultado de imagem para a verdadeira dificuldade não está em aceitar idéias novas

03/09/2016

Dia 15 - Solidão

Esta nova fase da minha vida faz-me questionar constantemente esta palavra - Solidão. O que é isto exactamente? Como é que consigo na realidade defini-la?

O meu dia-a-dia resume-se a sair de casa de manhã sozinha, conduzir sozinha até ao me local de trabalho, passar o meu dia de trabalho sozinha tirando as vezes ocasionais em que o meu patrão se senta na minha sala e conversa comigo, e conduzir para casa sozinha novamente. Provavelmente, para a maioria dos mortais isto seria uma situação muito triste, e de causar algum desespero. Mas tendo eu alguma dificuldade na convivência com outros humanos, eu consigo encontrar algum conforto nisto.

No entanto, há momentos em que eu decido pensar demasiado, e chego à conclusão que nem sempre me apetece estar sozinha mas acabo sempre por estar. As minhas vontades nunca estão de acordo com as vontades das pessoas que me podem fazer companhia. E o que é que acontece depois disto? A expectativa inicial, e depois a queda a pique chamada desilusão. Hoje é um destes dias.

Chego à conclusão que passo muito mais tempo a falar virtualmente com pessoas que nunca vou conhecer, e que partilham dos mesmos interesses que eu. Pessoas que sofrem do mesmo problema - falta de interesse em conhecer gente nova; pouca vontade para sair; pessoas que se sentem estranhas com outras pessoas. É isto que eu sou, basicamente. E não tenho problema nenhum com isso. A única coisa que me dificulta o sistema é existir dentro de mim o constante conflito de ideias - Não me apetece estar sozinha, mas também me apetece estar com ninguém.

Admito que são muito poucas as vezes em que isto acontece. Eu sinto-me extremamente acompanhada e conectada virtualmente - é uma sensação de conforto, onde eu encontro pessoas que falam a mesma língua que eu. Mas admito, que em alguns momentos, principalmente nos fins-de-semana sinto-me extremamente sozinha. Ao passo que nas noites, me sabe super bem o silêncio da casa - posso escrever à vontade, meditar, ouvir a minha música e cantar bem alto - durante o dia, custa-me imenso a passar.

Eu passo pelo seguinte processo:
-"Este fim-de-semana estou sozinha! Vai saber-me mesmo bem."
-"Bem, até que nem me apetecia ficar em casa. Mas também me apetece enfrentar o Mundo num local barulhento, em que a maioria das pessoas não são do meu interesse."
-"Vamos tentar ver se há alguém disponível." - Nesta fase eu já planeei como vou fazer, embora não tenha confirmação se dá ou não. Isto é extremamente perigoso, amigos!
-"Pois, afinal não vai dar. Não sei porque é que tento, quando na realidade, o desfecho vai ser aquele que eu já tinha previsto. Somos só eu e a minha cabeça."

E a seguir, vem a típica desilusão, e o típico sentimento de que todos os sacrifícios que eu fiz de tentar sair com alguém embora não me apetecesse; ou não ir a algum lado para não deixar a minha mãe sozinha em casa, não valeram a pena. Na realidade, o final será sempre o mesmo - os outros não irão nunca ter essa consideração por ti; e irás ter sempre tanta gente à tua volta que no fim irás sempre acabar sozinha.

Esta contradição de pensamentos é exaustiva. É dar voltas e voltas à cabeça a tentar perceber que é assim. É perceber que já fizeste o mesmo provavelmente a outras pessoas que estavam dispostas a nunca te deixarem sozinha, e perceber que por quem decidiste fazer sacrifícios é que te "abandona" no fim. 

Não sou capaz de admitir a ninguém que me sinto sozinha, às vezes. Acho que não tenho esse direito quando sou eu que afasto toda a gente, na maioria das vezes. Se calhar é um castigo para mim. Todas as coisas na vida servem como lição, certo? Esta deve ser a minha então.

A contradição de não me querer sentir pressionada, mas sentir que provavelmente tenho de o ser para baixar os muros que construo em volta; Testar toda a gente até ao máximo a ver quem não desiste...isto não é correcto, certo? Mas ainda não aprendi a resolver, nem ninguém o foi capaz de fazer também, por isso eu continuo a achar que não vale a pena. É muito engraçado as manhas que a nossa cabeça aprende a fazer, e como ela acha que isto é super útil, embora nos faça sentir tristeza e ansiedade.

Ao fim de umas horas, posso dizer que aprendo a aceitar completamente o meu destino, que é estar sozinha e que até podia ser pior. Acredito que nem todos viemos ao Mundo para estarmos acompanhados, para casar e ter filhos. Há pessoas que vêm ao Mundo para sofrer, e o sofrimento delas impede o sofrimento de outras pessoas; Eu acredito que o meu propósito é estar presente para quando alguém precisa, querer sempre aquilo que não posso ter, e observar enquanto os outros partem para outra dimensão. É ficar à espera, no mesmo sítio, de ser precisa novamente.

É isto.