Para fugirmos um bocadinho à depressão constante que têm sido os meus últimos posts, venho dar um update do meu processo de meditação.
Como falei em posts anteriores, a minha psicóloga trabalha com o Mindfulness que são técnicas de meditação; Isto serve para obrigar o cérebro a focar uns minutos que seja no momento presente, e desligar um bocadinho o piloto automático, coisa que o nosso cérebro é craque a fazer, naturalmente.
Pois isto é tudo muito engraçado e bastante útil, na teoria, mas na prática, não é assim tãooooooo fácil quanto isso de executar. Se todos forem como eu, que não paro de pensar um segundo, ("Será que a galinha veio primeiro ou foi o ovo?"; Porque é que as minhas unhas não têm todos o mesmo formato?"; "Será que o meu peluche tem vida própria quando durmo de noite?") irá ser bastante difícil o processo de concentração no aqui e agora e evitar ligar aos pensamentos cheios de vida própria, que a cabeça vai enviando.
No início, confesso que não entendi bem como deveria correr o exercício. Pensei que me tivesse de obrigar a não pensar (o que é impossível), e dava por mim numa luta constante comigo própria e com muita pouca vontade de repetir os exercícios.
Por alguma razão, parte do exercício, passa por sentir e focar apenas a nossa atenção nas diversas partes do corpo; Sentir se temos os pés frios ou quentes, sentir as mãos, focar a atenção na respiração, em como o diafragma sobe e desce à medida que respiramos. Isto é suposto, obrigar a cabeça a sair um bocadinho do piloto automático, e focar a atenção em sensações que provavelmente estão sempre lá, mas que a cabeça não detecta porque sabe fazer tudo sozinha.
O piloto automático é uma grande função do nosso cérebro: consigo lavar a loiça, lavar os dentes, caminhar, tomar banho, etc; E não preciso de pensar que tenho de assentar a ponta dos dedos dos pés no chão, e de seguida a planta do pé para conseguir dar então um passo. É excelente de facto...mas isto dá espaço para que as queridas horas de pensar na morte da bezerra sejam super frequentes, e muitas das vezes chegamos tristes dum passeio que demos no parque porque em vez de prestarmos atenção à paisagem envolvente, decidimos pensar que o Pancrácio (nome escolhido totalmente ao acaso) afinal não quer nada connosco, e que vamos ser solteiras para sempre.
Como sou uma pessoa super problemática, comecei a arranjar problemas com a meditação formal também: não tenho vontade de dispensar 30 min do meu tempo para tentar focar a atenção nos meus pés ou respiração, estou constantemente a pensar que ainda tenho imensa coisa para fazer e estou a perder tempo aqui, e uma data de coisas que não fazem mesmo qualquer sentido. Pensei que isto fosse um problema só meu, mas a minha psicóloga garantiu-me que não! (YES afinal sou normal) A maioria das pessoas não gosta de facto da meditação formal, porque obriga o cérebro a estar sossegadinho no canto dele, sem lhe darmos atenção nenhuma! E então ele vai tentar distrair, alertar e fazer de TUDO para retomar-mos as nossas actividades normais. O cérebro é nestes casos, uma criança mimada!
Experimentámos então, a meditação informal. Isto passa por focarmos a atenção no momento presente também, mas com algo palpável. Ou seja, um objecto, um alimento, ou até mesmo com as tarefas do dia-a-dia.
Foi muito mais fácil desligar-me dos meus pensamentos, e prestar atenção. Eu fiz este exercício com uma uva, que me foi posta na mão sem eu saber o que era. E de seguida comecei só por sentir a textura na mão, a temperatura, o peso (tudo de olhos fechados). Depois pude cheirar também, e no fim abri os olhos e pude também observar os detalhes visuais: a cor, as imperfeições, a maneira como a luz bate e modifica a cor. Por fim, comemos a uva, mas muito detalhadamente. Sentimos o sabor, a textura, a maneira como o interior da uva nos deixa a língua ou os dentes, e até mesmo o barulho crocante que faz a casca quando mastigamos. Em todos os momentos, o cérebro vai arranjar teorias para o que estamos a sentir, vai julgar e vai constantemente dizer "Tu estás a fazer isto mal"...Mas deixe-mo-lo brincar à vontade, reconhecemos que estes pensamentos estão lá (eu chamo-os de Horácio ou Inácio) e focamos novamente a atenção. É perfeitamente normal isto acontecer, e não estamos a fazer nada de mal!
É um exercício super engraçado, e pode ser feito com qualquer coisa e por qualquer pessoa, até crianças. O intuito não se trata de desligar o cérebro: isso é impossível, pois o trabalho dele é produzir pensamentos e não conseguimos impedir que ele o faça. Trata-se sim, de observarmos detalhes e desligarmos um bocadinho a pressa que a nossa cabeça tem de estarmos a pensar o que vamos fazer para o jantar logo, quando podemos apreciar a paisagem do caminho até casa, naquele preciso momento.
Desafio toda a gente que quiser experimentar - experimentem com um alimento que não gostem por exemplo, pois o cérebro vai-se focar muito mais em certos detalhes e vai ser mais fácil focar a atenção. Ou então nas mais variadas tarefas, como lavar a loiça, ou até mesmo lavar os dentes com a mão não dominante - esta é bastante engraçada porque a nossa mão não dominante não sabe lavar os dentes sozinha, e isto vai obrigar a focar a nossa atenção na maneira como escovamos e as sensações serão diferentes sempre.
Quem quiser partilhar, está à vontade. Fico curiosa para saber!
*Beijinhos*
lavei os dentes com a mão esquerda. demorei quase 10 minutos para ter a certexa de que estavam bem lavados, nunca o vou poder fazer de manhã
ResponderEliminarAhahaha Lá está! O objectivo, será sempre focar a atenção no que estamos a fazer no momento, e não no resto! Espero que o Mindfulness não te tenha feito chegar tarde aos teus compromissos xD
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