É
ingrato da minha parte pedir que o tempo passe. Se pensar na quantidade de
coisas que quero fazer, o melhor seria não passar o tempo. Mas sempre ouvi
dizer que o tempo cura, e é isso que eu estou à espera que o tempo faça
contigo.
Sinto-me
tão mal por me sentir aliviada com a situação, e saber que parte do meu alívio
te causa infelicidade. O Nandinho bate à porta constantemente cada vez que olho
para ti...Admito que não estou a conseguir dominá-lo, embora eu saiba que parte
dos meus pensamentos fazem sentido. Então porque é que para mim isto é um
dilema tão grande?
Magoa-me
saber que no fim de contas, és mais feliz com alguém que já te fez mal do que
com a minha presença só. Eu não te julgo, mas não acho que estejas a ser justa
comigo também.
Na
minha consulta foi-me dito que eu assumo um papel que não é meu, que eu acho
que tu és incapaz de tomar decisões e que por essa mesma razão eu escolho
anular os traços da minha personalidade (que em tempos foram muito vincados)
para prevenir que alguém se magoe. Eu não opino sobre um certo assunto, porque
fico em pânico só de pensar que certa opinião possa influenciar o teu
julgamento, e que a consequência disso seja a tua infelicidade. Culpem-me, mas
são os traumas do passado com acontecimento semelhantes que me fizeram ficar
assim.
Sabes
o que ela me disse? Que eu carrego a responsabilidade de toda a gente comigo;
que passo a vida a tentar prevenir e evitar confusões e como causa disso, eu
vou ficando cada vez mais confusa, vou-me sentido mais culpada, e mais infeliz.
Eu
não posso controlar tudo, eu não tenho esse poder, mas eu não sei fazer as
coisas de outra forma. Admito que a dor dos outros à minha volta me causa
desconforto também, porque automaticamente, a culpa vai ser minha. Porque será
que isto é assim? Desde quando é que eu passei a assumir as dores do mundo,
para não sofrer com o vosso eventual sofrimento? O que é que falhou no meu
processo de cozedura e amadurecimento?
Quando
eu saí do consultório, as palavras que me disseram fizeram todo o
sentido...ainda fazem. Mas o Nandinho é mais forte, e eu não sou excepção a
utilizar a “saída mais fácil”.
É
isso que eu faço, e a tua indiferença causa-me tanta tristeza, que sou capaz de
abdicar de tudo o que eu sei que é correcto, para saber que estás bem. Sou capaz de esquecer esta guerra e optar
pelo caminho mais fácil, se for isso que tu quiseres fazer. Porque para já não
consigo pensar de outra forma, porque eu sei que olhas para mim e me culpas
inconscientemente por este fracasso, mesmo que não o digas. Porque não sei que
atitude deva ter à tua volta, e sinto que não me queres por perto também.
A
vida é curta, e provavelmente um dia eu vou-me arrepender de ter dado ouvidos
ao “diabinho”, mas se tiver sido por uma boa causa, então valeu a pena.